4/28/2014

Chegou à Colômbia a delegação da visita internacional de solidariedade e humanitária


Rumo aos departamentos de Huila e Tolima partiram na manhã da segunda-feira 28 de abril, os 11 delegados e delegadas internacionais que por estes dias visitam a Marcha Patriótica na Colômbia. A visita é resultado do esforço conjunto de solidariedade com a luta do povo colombiano, e é parte dos encaminhamentos do Foro Pela Paz na Colômbia realizado no mês de maio de 2013 na cidade de Porto Alegre, Brasil.

A comissão está conformada por representantes do PCB (Brasil), Brigadas Populares (Brasil), Organização Comunista Arma da Crítica (Brasil), PCdoB (Brasil), Bildu (País Vasco), ACP (Cataluña) y MPA (Brasil), os que realizaram visitas a regiões urbanas e rurais dos departamentos de Huila e Tolima. Durante a visita desenvolveram-se reuniões com o movimento estudantil de ensino médio e fundamental, universitários, organizações agrárias, familiares de prisioneirxs políticxs, dentre outros setores organhizados. Tudo isto com o propósito de verificar a difícil situação de estigmatização e perseguição que sofre o movimento social e popular na Colômbia, e gerar espaços de solidariedade real para as organhizações sociais e políticas, e ao processo de paz.

VISITA DE SOLIDARIEDADE PELA PAZ COM JUSTIÇA SOCIAL NA COLÔMBIA PROMETE SER TUDO UM SUCESSO!



Neste momento os processos sociais e políticos, populares e democráticos da Colômbia, estão confluindo para construir uma grande frente pela paz com justiça social, democracia e soberania; entendendo que a participação do conjunto destes processos é fundamental nesse propósito, assim como o acompanhamento internacional para blindar o processo de paz e as diversas iniciativas que surgem do campo popular. Especialmente para evitar mais uma vez as experiências de extermínio, que lamentavelmente não são histórias do passado, mas que ainda continuam sendo uma prática sistemática do Estado e as elites econômicas e políticas, tanto nas suas estratégias legais e ilegais de perseguição política e social.

Como parte da continuidade das diversas propostas e iniciativas do Fórum pela Paz na Colômbia, realizado no mês de maio de 2013 em Porto Alegre, com participação de aproximadamente 1000 delegados de mais de 100 organizações de diversos países, realizaremos na Colômbia, durante os dias 27 de abril e 05 de maio, uma visita internacional de solidariedade pela paz com justiça social. Já confirmaram presença delegados de organizações e políticos democráticos da Argentina, Brasil, Paraguai, País Basco; espera-se a confirmação de outras delegações.
Esta visita será uma grande oportunidade para conhecer processos de base camponesa, sindical, estudantil, indígena, entre outras, assim como a difícil situação de direitos humanos -com suas particularidades- em várias regiões do país e, sobretudo, a decisão de luta que mantemos e assumimos consequentemente desde a Marcha Patriótica. Além disso, será uma oportunidade para um intercambio mais aprofundado com outras forças políticas e sociais como a Cúpula Agrária Camponesa, Étnica e Popular, aonde confluem os principais movimentos sociais e políticos. Ao mesmo tempo haverá um diálogo com o capítulo Colômbia do Alba-Movimentos e com a campanha presidencial do Polo Democrático e da União Patriótica, com senadores envolvidos com o processo de vítimas e direitos humanos como Iván Cepeda, entre outros, e com a Comissão de Paz do Congresso da República.
Assim sendo, será uma grande experiência que incluirá mobilizações e uma visita ao nosso dirigente e preso político Huber Ballesteros, o que com certeza impactará positivamentenossas lutas pela paz, e ratificará por parte dos participantes sua decisão de aprofundar a solidariedade com essas lutas.
Seguimos na luta, pela segunda e definitiva independência de toda Nossa América.
Marcha Patriótica Capítulo Brasil



Jornada nacional e internacional de solidariedade com Marcha


4/22/2014

Sozinhos não podemos, sozinhos não queremos

Rueda_de_prensa_2.jpgPor: Junta Patriótica Nacional










Atualmente, a maioria do povo colombiano está indignado pelos abusos generalizados dos setores dominantes contra as mulheres, a comunidade LGBTI, defensores de animais, jovens, trabalhadores, afro-colombianos, indígenas, camponeses, educadores, ou seja, toda essa violência contra todas as pessoas que não concordamos com o governo. A o mês passado vivemos a indignação diante dessa classe política em todo o país: foi realizada a Cúpula Agrária, Étnica e Camponesa durante os dias 15, 16 e 17; no dia 18 de março foi confirmada a já ilegítima e ilegal destituição de Gustavo Petro, prefeito da cidade de Bogotá; o despejo violento contra a população deslocada (refugiada interna) na cidade de Buenaventura; o protesto dos transportadores realizado nos dia 19 e 20 de março na cidade de Cali deixou uma pessoa morta. Toda essa indignação é provocada pelo abuso do mesmo poder econômico e político.  

Em todos esses casos a resposta foi o uso da força repressiva do Estado. No caso do movimento agrário, este não reconhecido em suas reivindicações, é estigmatizado e ameaçado, enquanto que o governo nacional não atende, nem soluciona as demandas e problemas colocados na mesa de diálogos instalada durante a primeira paralisação agrária realizada em 2013. Já o prefeito de Bogotá, Gustavo Petro, ao tentar implementar um esquema alternativo para a colheita do lixo nessa cidade foi atacado em conjunto pelo Procurador, as altas cortes, o presidente Santos, o partido Centro Democrático (de Uribe Velez), os partidos da coalisão de governo (a chamada Unidade Nacional). Todo esse setor da direita colombiana fez uso de seu poder para atrapalhar a gestão de governo até o ponto de manobrar juridicamente para cassar o mandato desse prefeito, assim como de impedi-lo de exercer cargos públicos por mais de dez anos. Por sua vez, os deslocados pela violência (refugiados internos) também foram brutalmente reprimidos em um assentamento na cidade de Barrancabermeja, quando reclamaram ao Estado pelo incumprimento por parte deste das promessas feitas na Lei de Vítimas e Restituição de Terras. Enfim, os transportadores da cidade de Cali (sudoeste) foram violentamente reprimidos quando protestavam contra a entrada em funcionamento do sistema de transporte conhecido como MIO sem qualquer tipo de diálogo ou conciliação, o que afeta diretamente a renda econômica de pelo menos seis mil famílias.

O abuso, a repressão e criminalização são generalizados. Em todos esses casos, são violados os direitos humanos desses setores sociais. Por isso é preciso reconhecer, tecer e construir uma pauta comum que consiga nos unir, nos aproximar para alcançar nossos objetivos. A prioridade é mudar esse estado de coisas; não será fácil, mas se todos empurrarmos juntos, se todos confluímos nesse objetivo, será possível. O movimento agrário e popular que participa na Cúpula Agrária, Camponesa, Étnica e Popular já deu o primeiro passo. É necessário construir pontes entre os outros setores violentados para juntos construirmos uma paz verdadeira, com justiça social, soberania e democracia.

A unidade é uma premissa política comum nos discursos dos setores democráticos e de esquerda. Não há qualquer plataforma política que não considere a unidade como sendo uma aposta, uma necessidade. A unidade é um princípio que pode nos levar ao poder e a ser governo das maiorias excluídas, criminalizadas e empobrecidas.
Apesar de estar presente em todos os discursos das organizações do setor popular e de esquerda, a unidade tem sido esquiva. Ao longo da história já vimos distintos momentos em houve tentativas de aproximação e articulação. Não podemos negar que existiram importantes experiências, porém nenhuma delas foi suficientemente eficaz para derrocar às classes instaladas nas cadeiras dos libertadores Bolívar e Nariño.  
São muitas as razoes que não tem permitido concretizar a unidade. O sectarismo, dogmatismo, a cooptação, infiltração, o desconhecimento e a inabilidade política fundada nos egoísmos e vaidades, tem sido práticas que obstaculizaram atingir esse objetivo. Muitos desses comportamentos tem provocado feridas que alimentam a desconfiança e, consequentemente, evidenciam a desunião. Dores e feridas que somente poderíamos superar na medida em que pensemos na Unidade como um imperativo ético e histórico.

Justamente estamos vivendo um momento em que a crise do regime de dominação é a cada dia mais visível. Os dominantes vem fazendo uso, como nunca antes, de todo tipo de ferramentas psicológicas, judiciais e físicas para manter o statu quo. Criminalizam, estigmatizam, processam, encarceram, destituem, assassinam e reprimem. Apesar disso ou quiçá por isso, os movimentos sociais e populares tem mostrado a eficácia da mobilização, conseguem desvelar o regime corroído pela profunda crise e até mesmo logram conter políticas que procuram reforçar o atual regime. Hoje devemos juntar nosso descontentamento, estar ao nível ético e histórico que exige o momento atual. Nesse sentido, propomos Unidade, organização e mobilização na procura de uma Assembleia Nacional Constituinte para a paz e a verdadeira democracia.

4/21/2014

ANUNCIO DE NOVA PARALIZAÇÃO NACIONAL NA COLÔMBIA: RADIOGRAFIA DE UMA SOCIEDADE MOBILIZADA

A partir do ano 2012 a Colômbia tem experimentado grandes mobilizações sociais. O surgimento no nível nacional de movimentos sociais e políticos com pautas amplas marcou uma opção alternativa de poder e governo, no meio da continuidade das práticas estatais e das políticas públicas do quarto país com maior inequidade do mundo e com uma guerra civil irresoluta por mais de 40 anos.



Durante a Cúpula Agraria, Étnica e Popular realizada nos dias 15, 16 e 17 de março na cidade de Bogotá, o mais recente grande encontro dos movimentos políticos e sociais da Colômbia, foi lançada uma convocatória a uma nova paralização nacional de todos os setores sociais para ser realizada em finais do mês de abril. Isso traz à memória a última paralização realizada em 2013, que resultou em umas negociações e acordos entre o governo e os manifestantes. Estes últimos denunciam o descumprimento dos acordos por parte do governo, o que justifica o chamado a uma nova paralização.

Neste panorama, conseguimos dialogar com David Flórez, porta-voz da Marcha Patriótica, um dos movimentos sociais e políticos mais importantes no contexto colombiano, quem analisou o momento atual de mobilização social e o panorama político a futuro. Eis a entrevista:

1.      Sabemos que os movimentos sociais colombianos realizam um importante esforço de construção de plataformas de unidade política. Você poderia descrever quais são os avanços a esse respeito nos últimos anos?
Está certo. Os movimentos sociais colombianos nos últimos anos sofreram um processo de qualificação muito importante que se reflete na passagem da luta meramente reivindicativa para a mais declarada disputa pelo poder político. Esse exercício se concretizou na criação de movimentos sócio-políticos em que confluem organizações camponesas, estudantis, sindicais, juvenis, indígenas, afro-colombianas, LGBTI, movimentos urbanos, entre outros, que têm um desejo de transformação estrutural e uma clara vocação de poder.

Sem dúvida, a Marcha Patriótica e o Congreso de los Pueblos (Congresso dos Povos) são os movimentos sócio-políticos mais significativos na atual realidade política colombiana, isso se deve a sua ampla presença no território nacional, sua diversidade e sua demonstrada capacidade de mobilização.   

Pode-se se dizer que são vários os avanços mais relevantes alcançados por esses movimentos sociais. Em primeiro lugar, a ressignificação do exercício da política, já que este foi reduzido à participação eleitoral. A criação destes movimentos permitiu resgatar (retomar) a rua, a mobilização e a organização como formas de alcançar vitórias políticas assim como de acumular forças para a tomada do poder e para chegar a ser governo.
Em segundo lugar, o posicionamento de temas fundamentais para a maioria dos colombianos que se encontravam por fora do debate público, como a necessidade da solução política do conflito e a paz com justiça social, o fracasso do modelo neoliberal e de livre comércio, especialmente no que tange a produção agrícola em condições de uma histórica concentração da terra e, por último, o debate sobre as nefastas consequências sociais e ambientais do modelo de extração mineiro e energético.

Em terceiro lugar, houve um avanço na unidade do movimento popular, porque esses processos organizativos nasceram com um profundo sentimento unitário que busca juntar todas as rebeldias do nosso país. Recentemente, nos dias 15, 16 e 17 de março desse 2014, tivemos a oportunidade de realizar a Cúpula Agrária, Étnica e Popular, na que um grande número de organizações sociais e política conseguiram não apenas articular as agendas, mas também avançar em aspectos importantes de unidade programática e de projeção estratégica.  



2.      Quais são as principais dificuldades para a construção dessas organizações políticas alternativas no panorama político colombiano?
 Eu poderia mencionar varias. Mas definitivamente a principal tem sido a falta de garantias reais e formais para o exercício da política. A Marcha Patriótica, desde seu nascimento, tem sido vítima de uma feroz perseguição por parte do Estado, o que se expressa claramente nos 48 integrantes assassinados, mais de 300 vítimas de fraudes judiciais, entre os quais encontram-se processos contra três integrantes da nossa direção nacional: Huber Ballesteros, Francisco Toloza e Wilmer Madroñero. Além disso, mais 900 integrantes foram receberam ameaças de morte por parte de grupos paramilitares que trabalham de mãos dadas com o Estado. Todos esses vexames têm sido legitimados por meio de uma brutal campanha de estigmatização que vai do presidente da república, os ministros, os comandantes militares e termina na grande mídia.

3.      Você poderia descrever para nós qual é a proposta de construção de democracia de Marcha Patriótica e quais suas distancias e críticas com a suposta democracia eleitoral colombiana?
É muito importante que fique claro para os leitores que na Colômbia não há uma verdadeira democracia e que claros exemplos disso foram as mais recentes eleições legislativas que se realizaram no meio a denúncias de fraude feitas por todos os partidos que participaram, pelo enorme custo das campanhas, algumas delas superaram os dois milhões de dólares por candidato, cifra que só é possível de ser alcançada por meio da financiação de transnacionais, do setor financeiro ou do narco-paramilitarismo. Também ficou evidente o constrangimento armado, o aumento das ameaças contra as organizações sociais e a compra de votos, o que fez com que 69 parlamentares eleitos sejam de famílias ou clãs políticos ligados ao paramilitarismo, realidade que na Colômbia é de público conhecimento.  O histórico clientelismo também esteve presente, por meio dele foi distribuído o dinheiro do Estado para garantir cadeiras no parlamento e assegurar que os amigos do presidente Santos acompanhem a pretensão de reeleição dele.

Outro fenômeno importante para analisar é a historicamente alta abstenção subiu para 56% no nível nacional e em Bogotá foi de 66%. Além do crescimento significativo do voto em branco, de votos nulo e votos não marcados, que somados chegam a 22% dos votos, o que representa o percentual de votos que é superior ao de qualquer um dos partidos políticos que participaram nas eleições. Isso mostra, a meu ver, uma aguda crise de representação do regime político colombiano, que devido a um exercício claramente antidemocrático e de clientela nas eleições, suscitou uma enorme rejeição dessas instituições por parte dos colombianos. Diante desse panorama no atual regime político, a esquerda colombiana está limitada a reproduzir a democracia governável por meio da participação minoritária no parlamento, sem nenhuma chance real de ser governo e de ter poder.

É por isso que a Marcha Patriótica vem insistindo na necessidade de realizar uma assembleia nacional constituinte, que consiga mudar o atual regime político e suas instituições antidemocráticas e que abra a possibilidade de referendar popularmente os possíveis acordos entre as insurgências e o governo nacional, e que também inclua aos setores sociais historicamente excluídos das decisões importantes de nosso país: indígenas, afro-colombianos, camponeses, estudantes, e aos integrantes dos grupos insurgentes.

4.      Você poderia fazer uma breve análise do panorama de mobilizações populares que aconteceram na Colômbia desde o surgimento dessas plataformas de unidade social e política?   
Eu posso dizer que essas plataformas nasceram na mobilização popular, já que são produto de acumulados históricos de luta e porque seu nascimento foi legitimado por massivas mobilizações, como aconteceu o dia 12 de outubro de 2013 com o Congreso de los Pueblos e nos dias 20 de julho de 2010 e 23 de abril de 2012 no caso da Marcha Patriótica. A geração destes processos tem repercutido no aumento significativo da mobilização social, popular e unitária em nosso país. Isso trouxe como resultado a realização da Semana da Indignação em outubro de 2012, a paralisação agrária e popular e a Minga Indígena entre os meses de setembro e outubro do ano 2013. Esses últimos fatos constituíram-se na maior mobilização em nosso pais dos últimos 30 anos.

5.      Qual é a agenda política de mobilizações prevista na Colômbia?
Como resultado da Cúpula Agrária, Étnica e Popular, o movimento político e social Marcha Patriótica, Congreso de los Pueblos e as organizações mais representativas dos mundos afro-colombiano e indígena preparamos uma nova paralisação nacional a ser realizada e finais do mês de abril e começos do mês de maio, que busca obrigar ao governo a mudar suas políticas em relação aos camponeses e a produção agrícola e frente a outros setores sociais.

Entrevista a David Flórez, porta-voz nacional do movimento político e social Marcha Patriótica.
Twitter: @Davidflorezmp
@marchapatriota

www.marchapatriotica.org.