Por: Junta Patriótica Nacional
Atualmente, a maioria do povo colombiano está indignado pelos abusos generalizados dos setores dominantes contra as mulheres, a comunidade LGBTI, defensores de animais, jovens, trabalhadores, afro-colombianos, indígenas, camponeses, educadores, ou seja, toda essa violência contra todas as pessoas que não concordamos com o governo. A o mês passado vivemos a indignação diante dessa classe política em todo o país: foi realizada a Cúpula Agrária, Étnica e Camponesa durante os dias 15, 16 e 17; no dia 18 de março foi confirmada a já ilegítima e ilegal destituição de Gustavo Petro, prefeito da cidade de Bogotá; o despejo violento contra a população deslocada (refugiada interna) na cidade de Buenaventura; o protesto dos transportadores realizado nos dia 19 e 20 de março na cidade de Cali deixou uma pessoa morta. Toda essa indignação é provocada pelo abuso do mesmo poder econômico e político.
Em
todos esses casos a resposta foi o uso da força repressiva do Estado. No caso
do movimento agrário, este não reconhecido em suas reivindicações, é
estigmatizado e ameaçado, enquanto que o governo nacional não atende, nem
soluciona as demandas e problemas colocados na mesa de diálogos instalada durante
a primeira paralisação agrária realizada em 2013. Já o prefeito de Bogotá,
Gustavo Petro, ao tentar implementar um esquema alternativo para a colheita do
lixo nessa cidade foi atacado em conjunto pelo Procurador, as altas cortes, o presidente Santos, o partido Centro
Democrático (de Uribe Velez), os partidos da coalisão de governo (a chamada
Unidade Nacional). Todo esse setor da direita colombiana fez uso de seu poder
para atrapalhar a gestão de governo até o ponto de manobrar juridicamente para cassar
o mandato desse prefeito, assim como de impedi-lo de exercer cargos públicos
por mais de dez anos. Por sua vez, os deslocados pela violência (refugiados
internos) também foram brutalmente reprimidos em um assentamento na cidade de
Barrancabermeja, quando reclamaram ao Estado pelo incumprimento por parte deste
das promessas feitas na Lei de Vítimas e Restituição de Terras. Enfim, os
transportadores da cidade de Cali (sudoeste) foram violentamente reprimidos
quando protestavam contra a entrada em funcionamento do sistema de transporte
conhecido como MIO sem qualquer tipo de diálogo ou conciliação, o que afeta
diretamente a renda econômica de pelo menos seis mil famílias.
O
abuso, a repressão e criminalização são generalizados. Em todos esses casos, são
violados os direitos humanos desses setores sociais. Por isso é preciso
reconhecer, tecer e construir uma pauta comum que consiga nos unir, nos
aproximar para alcançar nossos objetivos. A prioridade é mudar esse estado de
coisas; não será fácil, mas se todos empurrarmos juntos, se todos confluímos
nesse objetivo, será possível. O movimento agrário e popular que participa na
Cúpula Agrária, Camponesa, Étnica e Popular já deu o primeiro passo. É
necessário construir pontes entre os outros setores violentados para juntos
construirmos uma paz verdadeira, com justiça social, soberania e democracia.
A
unidade é uma premissa política comum nos discursos dos setores democráticos e
de esquerda. Não há qualquer plataforma política que não considere a unidade
como sendo uma aposta, uma necessidade. A unidade é um princípio que pode nos
levar ao poder e a ser governo das maiorias excluídas, criminalizadas e
empobrecidas.
Apesar
de estar presente em todos os discursos das organizações do setor popular e de
esquerda, a unidade tem sido esquiva. Ao longo da história já vimos distintos
momentos em houve tentativas de aproximação e articulação. Não podemos negar que
existiram importantes experiências, porém nenhuma delas foi suficientemente
eficaz para derrocar às classes instaladas nas cadeiras dos libertadores
Bolívar e Nariño.
São
muitas as razoes que não tem permitido concretizar a unidade. O sectarismo,
dogmatismo, a cooptação, infiltração, o desconhecimento e a inabilidade
política fundada nos egoísmos e vaidades, tem sido práticas que obstaculizaram
atingir esse objetivo. Muitos desses comportamentos tem provocado feridas que
alimentam a desconfiança e, consequentemente, evidenciam a desunião. Dores e
feridas que somente poderíamos superar na medida em que pensemos na Unidade
como um imperativo ético e histórico.
Justamente estamos
vivendo um momento em que a crise do regime de dominação é a cada dia mais
visível. Os dominantes vem fazendo uso, como nunca antes, de todo tipo de
ferramentas psicológicas, judiciais e físicas para manter o statu quo. Criminalizam, estigmatizam,
processam, encarceram, destituem, assassinam e reprimem. Apesar disso ou quiçá
por isso, os movimentos sociais e populares tem mostrado a eficácia da
mobilização, conseguem desvelar o regime corroído pela profunda crise e até
mesmo logram conter políticas que procuram reforçar o atual regime. Hoje
devemos juntar nosso descontentamento, estar ao nível ético e histórico que
exige o momento atual. Nesse sentido, propomos Unidade, organização e
mobilização na procura de uma Assembleia Nacional Constituinte para a paz e a
verdadeira democracia.
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